quinta-feira, 10 de novembro de 2022

 Faz tempo que venho pensando na minha lista de desejos, de coisas que eu gostaria de ter e fazer até que eu parta na última aventura.

Crescemos vivendo uma série após a outra na escola, metas de terminar ensino médio, fazer faculdade, arrumar emprego, comprar casa, colocar os filhos em boas escolas, curso de inglês, trocar de carro, fazer pós... É tanta coisa e passa tão corrido que poucas vezes nos perguntamos o que nos faria mais feliz.
Ando escrevendo minha lista e me motivando a realizar, independente dos outros, das adversidades, das circunstâncias e possibilidades. É por mim, para mim, comigo.
Desejo:
- fazer aula de dança e ir a bailes até ficar beeeem velhinha;
- viajar mais, quero conhecer a Grécia, Espanha, Coreia e Jerusalém.
- um quarto só pra mim, com direito a closet e as coisas que eu gosto, do meu jeito
- ir a uma praia de nudismo e fazer as pazes com o meu corpo, me integrar a natureza, sentir paz.
- fazer uma viagem espiritual, algo de busca, pode ser no Tibet ou Santiago de Compostela, tanto faz, quero viver uma experiência transcendental
- Quero sair do centro urbano e morar numa casa com quintal, vegetação, passarinhos. Não precisa ser muito no interior por que minha alma cosmopolita vai chiar mas preciso desse silêncio para ouvir minha alma.
- Viver a plenitude dos avós com os netos
A lista está sendo construída mas há tanto por viver.
Você já fez a sua?

Gosto do silêncio.

Das longas horas sem dizer uma palavra, quando o cérebro trava diálogos infinitos entre meus vários eus.
Gosto da solidão, de não me ver no espelho, de me perder na ficção das histórias da televisão até me perder entre quem fui ontem e quem jamais serei.
Aprendi a ver beleza no tempo que passa lento, na desaceleração dos dias, em ver através das cortinas o vento, o sol, a chuva que cai. Na insistente rotina que me mostra que a vida permanece, insistentemente, todos os dias.
Talvez viver seja muito mais ou muito menos, talvez as expectativas sobre o que deveria ser estraguem o que é, o que pode ser.
Não sinto mais falta dos abraços, dos contatos humanos, nascemos solitários, assustados, em uma sala fria, a luz nos cega, temos medo... E não é assim que atravessamos o túnel do tempo?
De certa forma só o que muda é a ampliação da consciência mas tudo permace igual, em seus ciclos eternos, pra mim, pra você, para todo mundo.
Não tenho medo do escuro nem da rotina, tenho medo do que não compreendo, do que não alcanço e do que insisto em querer.


terça-feira, 26 de novembro de 2019

Foram 24 anos que se tornaram um pesadelo

Desde que decidi sair do meu trabalho para buscar um novo propósito profissional e, por que não dizer, de vida, fui tomada por uma certa melancolia, uma angustia ao fazer a retrospectiva dos 24 anos que me dediquei profissionalmente a uma empresa.

Foram anos repletos de períodos ruins e alguns muito bons, fiz amigos de verdade (poucos é verdade), muitos colegas, tive momentos de diversão, de construção, de conquistas, estudos e vitórias, mas também tive momentos péssimos, chefes que me humilharam, gerentes que tentaram me usar para ganhar vantagem, muitas e muitas vezes meu trabalho tinha seus louros desviados para outra pessoa, e nem sempre senti que meu potencial foi aproveitado, exceto pelos 10 anos que passei na área de informática, que foi quando a minha capacidade de correlacionar conhecimentos fez diferença, onde eu mostrei que tinha muito a oferecer e fiz coisas que pareciam impossíveis a uma pequena operária como eu, mas como em toda empresa onde a política e o networking vale mais do que a inteligência e capacidade técnica, esse tempo também passou.

Sai por que entendi que havia concluído um ciclo, e que os bons tempos não voltariam, e tentar reconstruir bons tempos numa época em que só valorizam os mais jovens e que tentam a todo custo expurgar os mais antigos como se fossemos uma praga que enfeia o jardim, não valia a pena, preferi me retirar com elegância.

Teria sido bom, maravilhoso, se não fosse a tortura de vez por outra sonhar que estou trabalhando lá, um dia de trabalho comum, os corredores, as pessoas, as maquiavélicas relações, os sorrisos falsos para manter as aparências, as guerras de vaidade, e então eu acordo pesada, angustiada, como se eu tivesse tido o pior dos pesadelos, coração acelerado, sensação de MEDO, como se eu estivesse correndo perigo.

Como é que um lugar onde você entrou jovem, construiu uma vida, criou seus filhos, fez amigos se torna um pesadelo em sua vida?

Que raio de ambiente é esse que com o passar do tempo vai te levando a síndrome do pânico, labirintite, enfarto e até morte, como eu vi muitos amigos adoecerem e até morrerem? Quantos casos de câncer foram presenciados naquele lugar?

Por detrás de todo aquele envoltório de perfeição, programas de qualidade de vida, Rh atuante, havia sempre uma aura de maldade por todo lado, a vaidade consumia as pessoas, os interesses, as politicagens sujas, os desvios de recurso, sempre havia algo de errado acontecendo nos bastidores e eu sentia, absorvia, me fazia mal tudo aquilo, não conseguia me adaptar, foram 24 anos em que me senti deslocada, inadequada, minha franqueza e verdade sempre me rotulou de pessoa com temperamento difícil e assim era mais fácil ver que eu não entrava no esquema, por isso não era apta a subir de postos ou fazer parte das grandes rodas, meu trabalho e minha capacidade operacional, estratégica era sempre colocada em segundo plano.

Pagou minhas contas, mas não foi de graça, nem foi favor, eu trabalhei lá de verdade, não empurrei com a barriga, não fui pelo caminho fácil, eu trabalhei de verdade.

Não sou grata a empresa, sou a algumas pessoas, poucas, que conto nos dedos.

O resto? é pesadelo, que eu peço a Deus um dia esquecer e nunca mais sentir esse pânico que se transformou a memória de mais de metade da minha vida.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Caminho Inverso

Enquanto olho no maço de cigarro a informação que o Ministério da Saúde me dá quanto ao uso do cigarro, pensei, sim ele mata, mas tudo mata.
O carro que está estacionado lá nas margens da calçada, e que tanto meu ajuda, me leva, me traz, me protege da chuva, me dá conforto, um dia qualquer, numa rodovia qualquer, pode ser o caminho para a minha morte, por que ele também mata.
Os amores que hoje consomem meus dias, meus filhos, fonte de toda inspiração de viver, um dia, se me deixarem antes do tempo, irão me matar, não por culpa deles, mas por que morte é inevitável, a certeza máxima que temos, e que mesmo atravessando séculos e séculos, nunca estamos preparados, melhor é viver sem pensar, fazer o que sentir vontade e prazer, buscar a alegria, por que se formos parar pra pensar...
O alimento te sustenta mas te mata, seja por colesterol, triglicerídeos, diabetes e tantas outras...
A bebida que hoje você brinda, também pode te matar, na loucura da embriaguez, na fragilidade do seu fígado, mas mata.
O ar tão necessário, nos enfraquece, poluição, toxinas... morremos lentamente.
Não me venha falar do quanto o ser humano com suas tecnologias, ganancia, exageros, maldade, tem estragado todas as coisas, por que isso não me importa, o fato é que eu, que nada fiz, estou aqui, morrendo todos os dias, como você.
No caminho inverso que decidi fazer, corri pra frente o mais que pude pra parar e voltar, lentamente, revendo os passos.
Meu caminho espiritual não foi feito em Santiago no Chile, nem na India num templo budista, eu me voltei pra dentro de mim, fui visitando dores, amores, passagens, desafios, dificuldades, desamores, favores, presentes, perdas, quedas, uma a uma, sentindo as dores, lembrando de pessoas, sentindo gratidão por alguns e deixando a raiva que existia de outros tomarem forma como a chama da vela, que arde até ela se acabar, limpando por dentro, definindo claramente o que passou, o que curou, o que acertou, o que nunca terá solução ou perdão, e aceitando isso também, por que me entendi frágil e sozinha.
Me encontro no meio termo entre ser o que sou e o que fui, sem saber o que serei.
Nem espiritual somente, nem mística, por que espero uma mágica, um encontro.
Nem só mãe, nem mulher, estou cansada de servir todo o tempo, quero apenas ser.
Não quero ser mais obrigada a nada, quero caminhar livremente, até enjoar, até cansar e depois poder mudar tudo, como um pé de vento, que revira tudo ao redor.
Deixei meus cabelos brancos surgirem livremente, aceitei o envelhecer, mas não aceito meu corpo ainda, preciso achar um jeito de deixar de acumular, sempre fui acumuladora, silenciosa, de sentimentos e pensamentos, ninguém via, ninguém notava, ninguém se interessava, mas tudo estava lá, sempre esteve lá.
Sinto que a hora de partir não está longe, mas não sei se essa morte tal qual a carta do baralho é tão somente uma mudança ou o fim de uma jornada. Mas sinto a revolução acontecer.
Estou só
sinto que por mais que tente explicar não conseguirei.
Preciso encontrar um lugar que me proporcione o tal encontro, antes que seja tarde e eu perca o tempo de todas as coisas.
A lagarta precisa morrer, a metamorfose começou...

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Fera interior

Já sentiram ódio de alguém?
ódio mesmo, não aquela raiva passageira, mas algo maior que te infla por dentro, que faz você desejar com toda força que algo de muito ruim, sério e que traga muita dor aconteça com alguém? pois é, eu achei que jamais sentiria isso ao longo da minha vida. É certo que sempre fui uma pessoa de temperamento explosivo, agressivo, raivoso eu diria, mas eu sabia que após a primeira explosão tudo se dissipava no vento, no tempo, nada ficava pra depois ser ruminado, simplesmente acabava, até que...
Até que eu entendi que neste mundo os perversos jogam com vantagens por que ser bom e honesto nesse mundo não te rende muitos frutos, você até pode conquistar pontos espirituais se estiver num processo interno de acumular pontos visando a ascensão do seu plano espiritual, mas aqui, no corpo a corpo da vida terrena, quanto melhor você é, mais se ferra. 
Tudo é feito pra você se ferrar, e como tem pessoas dispostas a serem o instrumento disso.
Hoje, enquanto meu marido conversava ao telefone, meu ódio ia sendo alimentado, senti minha fera interior ganhando corpo, ganhando forma, um nó apertando minha garganta, era ódio, muito ódio. Meu pensamento fica turvo, meu coração acelera, minhas mãos tremem, e eu confesso que numa situação limite não sei do que seria capaz de fazer.
Hoje eu sinto isso quando me vem a mente um grupo seleto de pessoas, não é muita gente, mas são pessoas que merecem que um dia na vida todos esses meus devaneios de vingança se cumpram.
Eu não movo uma palha para que aconteça, deixo a cargo do destino... aprendi a esperar, observar, alimentando minha fera interior, aguardando silenciosamente... quero poder saborear com tranquilidade quando o prato for servido.
Você ai pode estar pensando, mas pra quê? por que não perdoar? e todo aquele papo cristão-evangélico-espirita-gente do bem, então eu te digo, por que não quero, não sou capaz, não entendo o porquê de eu ter que perdoar essas pessoas, e até o presente momento nada me convenceu o contrário, não tenho medo do inferno, do limbo, do umbral... viver é um estágio pra tudo isso, eu sou uma sobrevivente, saberei me virar.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Escravidão


Faz dias que eu penso sobre essa questão espiritual, sobre o propósito de todas as coisas que me aconteceram, as pessoas que conheci e tive relação mais próxima, tudo o que perdi, tudo o que ganhei, o quanto os acontecimentos foram me moldando e o quanto de mim foi sendo perdido por ai.
A verdade é que eu sinto como se nunca tivesse decidido absolutamente nada na minha vida, nunca foi propriamente dita uma escolha, eu tinha uma séria de situações ao meu redor, tinha a minha natureza impulsiva, decisões que precisavam ser tomadas, um pouco de coragem, muito medo e desespero e assim fui "ditando" o rumo da minha prosa, da minha vida.
Eu podia ser uma médica, uma advogada, uma psicóloga, mas comecei a trabalhar cedo, eu não tinha ainda pensado sobre profissão, eu não tinha base e nem orientação pra fazer uma escolha dessas, eu simplesmente comecei a trabalhar dentro de uma empresa e fazer administração estava dentro do meu contexto de vida, mas será que isso me fez desperdiçar um talento? uma missão divina? será que por ter me desviado de um caminho em função da necessidade e das circunstâncias foram me fazendo ser uma pessoa menos completa? eu me sinto frustrada com a minha vida profissional, ainda que muita gente me ache competente e capaz, me ache inteligente e com um talento diferenciado para resolver coisas e achar soluções, eu sinto que nada do que fiz foi bom o bastante, que o meu trabalho não tinha um proposito grandioso o suficiente pra justificar uma vida inteira de esforço, uma juventude perdida, eu trabalhei por que precisava viver, criar minha filha, pagar as contas, nunca foi por um ideal ou propósito maior, sempre foi apenas para sobreviver a um mundo que me exigia não só meu esforço e minha força de trabalho, me exigia minha alma, meu sangue.
Quantas vezes me submeti, me feri, me sufoquei, tive que baixar a cabeça, aceitar o não, fazer de conta que entendia decisões que eu sabia estarem sendo tomadas erroneamente, por que eu era soldado raso.
Viver dentro de uma empresa é ter que administrar vaidades, abuso de poder, traições, mentiras, falsos amigos, você se apequena para caber dentro do estereotipo que eles esperam de você, mãos e pés atados, apenas para cumprir a meta e o cronograma, sua vida? ninguém se interessa, ninguém nem nota, você é um número de matrícula e um salário mais encargos no fim do mês. Substituível! somos usados.
Agora eu me vejo aqui, logo quando pensei que havia me liberado de tudo isso, precisando voltar a trabalhar para cumprir as mesma obrigações que fizeram a minha vida ser como é, voltar a estar dentro de uma empresa e reviver todas as relações difíceis e nocivas que vivi por quase 30 anos da minha vida e não encontro motivação.
Não há nada lá que me faça achar que isso será bom pra mim, só o salário.
Sou uma vendida, fraca e incapaz... eu arrisquei e perdi, agora tenho que voltar o jogo ao começo, ensaiar um sorriso falso, esquecer de todas as feridas que carrego, ensaiar um olhar de poder, onde todos acreditem que eu sou mais do que sou de fato, que tenho mais do que tenho de fato... por que ninguém quer saber o quanto me esgotei, pra eu poder pagar as contas no fim do mês, voltarei a viver a mentira de todos os dias, sem saber quando isso tudo irá terminar.
Meu marido joga compulsivamente na megasena, ele não quer que eu volte, mas os boletos chegam, os sorteios nos dizem que não deu mais uma vez, e eu tenho que aceitar.
Escrava sou da minha própria vida, presa aos grilhões das obrigações, açoitada todos os dias pela insatisfação que carrego... e não serei livre, não em vida.

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Dias de luta, dias de gloria...

Não é que eu queira minimizar minhas responsabilidades, mas...

Tem dias que eu acordo e começo a achar que estou melhorando. O peito não está pesado, a cabeça não está doendo, a vontade de dormir eternamente não me paralisa, eu apenas acordo e vou cumprindo as obrigações do dia a dia, meio maquinalmente, sem nenhuma vontade mas resignada, porém há dias que mesmo que eu quisesse fingir não teria um modo, mesmo que eu tivesse feito tablado e fosse uma atriz premiada, não teria como, está escrito em todo o meu corpo, refletido no meu olhar, eu cansei!

Hoje eu acordei, depois de uma noite inteira virando de um lado pro outro no sofá (ando incomodada com a minha cama) e fiz de tudo pra começar o dia bem, tomei café com o marido, arrumei as marmitas, fiz as coisas do dia a dia, mas lá dentro a coisa estava já desandando, mas ai eu me lembrei que hoje a noite tem estudo do evangelho no centro, e ai veio a segunda preocupação: com que roupa que eu vou? não posso chegar lá com o meu marido parecendo a velha maluca que ele resgatou da rua, já bastam os cabelos brancos por que não pinto a 10 meses e as unhas que não faço mais, ir toda mal ajambrada já é demais. Começou um pega daqui, escolhe de lá, experimenta, ai começo a suar, as roupas não cabem, uma coisa não combina com a outra, tô enorme de gorda... pronto, definitivamente DESANDOU.

Nasci em 1972, fui magra até agosto de 1993, que foi quando engravidei. Por algum motivo desconhecido, meu metabolismo de gente magra, de familia magra, de genética de magra, foi pra casa do cacete, e brigo com a balança desde então. 25 anos da minha vida me olhando no espelho e vendo uma aberração na minha frente. Eu odeio o que vejo, odeio tudo o que vejo, odeio do papo ao joelho.

Já fiz todas as dietas que vocês possam imaginar. Da sopa com aipo, do ovo, da mediterraneo, dos pontos, da proteína, carboidrato zero, tudo, até reeducação alimentar. Já me consultei com endocrinologistas, nutrólogas, nutricionistas, psiquiatras, pai de santo, fiz simpatia pra emagrecer, inclusive já coloquei um balão intragástrico, que me fez emagrecer 9 quilos dos 15 prometidos e que engordei tudo de novo quando tirei... até com o balão meu emagrecimento foi mais lento do que a média.

Já tomei sibutramina, fluoxetina, fenproporex, shakes de emagrecimento, chá verde, capsulas das mais variadas com produtos pseudo-naturais. Café Marita, foi uma dos meus mais ousados devaneios.

A verdade é que não como absurdamente, eu como como uma pessoa magra que não engorda come, mas eu deveria comer como uma pessoa gorda que quer ser magra deve comer, ou seja: nada! tudo o que como se concentra em mim e me faz ficar cada dia mais deformada.

Com o avançar da idade só vai piorando, e não tenho mais força pra encarar dieta, eu já não tenho mais coragem pra enfrentar atividades físicas, estou deprimida demais pra lidar com tudo isso, e quando mais vou engordando, pior vai ficando... minha vontade de sair de casa diminui, não quero que ninguém me veja, não quero ter que me arrumar, não quero simplesmente me esquivar de fotos por causa do meu papo que sempre fica proeminente, eu finjo o máximo que posso pra ninguém perceber que a cada minuto num ambiente social meu desconforto vai crescendo e minha vontade é de sumir, e eu acho que até consigo fingir bem, por que a maior parte das pessoas não percebe, a outra parte nem nota que estou na festa, por ai vai.

Tem noção do que é viver a maior parte da sua vida odiando se ver? com vergonha de si mesmo? eu vivo assim a tanto tempo que já não sei mais como sou de verdade, tudo o que vejo no espelho é uma deformidade de mim mesma, do eu que me lembro antes de engravidar a primeira vez, quando eu tinha 21 anos, o que comparado a hoje com 47 anos é algo que nunca vai se encontrar, as imagens nunca serão iguais, eu estou morrendo sendo alguém que desprezo.

Todo mundo fala que a gente deve se amar, se aceitar, que isso é futil, que o importante é o que temos por dentro, o que somos, os valores que acreditamos, mas ai isso não me ajuda quando estou tentando caber numa roupa de manhã ou quando tenho que colocar um biquini por que a familia resolveu ir pra praia... aliás, eu não vou a quase 2 anos, não quero...

Por que tudo tem que ser tão incrivelmente difícil e dolorido? por que o mesmo processo que fez com que meu metabolismo desacelerasse não faz ele voltar a ser como era antes e finalizamos logo essa tortura? Se há um Deus e ele me ama, por que não me ajuda? por que não entende que isso, que é algo muito menor do que todos os milagres que Jesus operou na terra, faz com que eu deixe de realizar mais da metade das coisas que poderia estar realizado se eu tivesse auto confiança, se tivesse auto estima? por que ele não me ajuda e paga pra ver? por que não me dá uma chance de desenvolver meu potencial em vez de estar me afundando na depressão a cada dia mais? 25 anos já não basta como penitência?

Se as pessoas entendessem...
Se as pessoas conseguissem mensurar...
Mas elas não sabem por que não querem
é só olhar nos meus olhos e ver que eu morri faz tempo.
Não vejo mais graça em lutas as minhas lutas.
Não há glória.