segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Emaranhado

Houve um momento em que eu sabia o próximo passo, eu tinha planos, objetivos reais, metas, tudo estava alinhavado dentro do meu raciocínio e não tinha como dar tão errado, mas ai então veio o NÃO.
Implacável, dolorido e taxativo... NÃO, você não foi escolhida, você não vai seguir por esse caminho, você não vai fazer isso agora e então, todas as cartas voltaram para o baralho e eu fiquei perdida, como um As sem canastra.
Aquele NÃO embaralhou os planos e na sequencia seguinte me vi perdendo pouco a pouco as certezas, a auto confiança, e cada novo não que chegava me fazia entender cada vez menos a vida, cada vez menos as minhas próprias capacidades, eu me vi insegura, com medo, perdendo tudo, água escorrendo entre os dedos, sabonete perdido no chão do box.
Os dias foram seguindo, semanas, meses, fui olhando cada vez mais para o passado, tentando entender o que fez eu ser o que sou, como sou, onde foi que fracassei mais do que prosperei. Fui me dando conta de como tudo foi extremamente difícil e pesado até ali, do quanto de mágoas e dores eu carregava no peito, fui me fechando, fui me encolhendo, me apequenando.
Dinheiro acabando, meses de frente pra TV, mais de 15 quilos sobrando em todo o meu corpo, e essa vontade desesperada de chorar, de brigar com Deus, de dizer pra ele que não era essa a brincadeira que eu queria brincar, que ele trapaceou, me colocou num jogo que eu não podia ganhar e ele sabia disso, mas mesmo assim me deixou gastar toda a minha energia, juventude e vitalidade tentando vencer, pra agora eu me ver envelhecida, cansada, obesa, amargurada e com essa obrigação terrível de viver para não magoar os meus filhos.
Sei que falando assim parece que não há nada de bom na vida, que a minha vida parece pior que a dos outros mas eu fico me perguntando se todos tem esse momento em que olham pra dentro e se dão conta do emaranhado que se tornaram, dos cacos que sobraram de si mesmo, dos bagaços misturados a células que cismam em se regenerar todos os dias, se todos de uma forma geral apenas deixam pra lá e vão levando seus dias como se tudo fosse a primeira vez ou se acumulam como eu seus insucessos em caixinhas que vez por outra se rompem.
O que fazer quando não se sabe mais onde apostar ou por onde recomeçar e quando não se tem mais nada a dar quando todos parecem esperar tanto de você?
Me sinto hoje um emaranhado, algo entre o que fui, o que pretendia ser e o que sou, onde não vejo caminhos e cada passo é apenas para agradar, assim como os sorrisos amarelos e sem graça que finjo para que os outros não percebam que eu morri ou que estou morrendo todos os dias, insistindo em lidar com coisas com as quais não sei mais.

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